Premissas
Luiz MacPontes
Premissas
Luiz MacPontes
Não, coração incólume não, não existe,
Pois que não há para o espírito placidez
E, além do eixo, a tormenta persiste
Encapelada, discricionária, talvez,
Materialização da fibra incontida,
Que prorrompeu da carbônea rebelião;
A complexa, portentosa, e pervertida
Obra-prima, que escapou das mãos do Artesão.
Insolente, como se fugaz não o fosse,
Não adormece, desfalece de exaustão ;
E aquela séptica e antiga tosse
Que a consterna, que exibe sua servidão…
Oxalá não seja o penhor da bonança
Exício, que subjacente ao eixo, perdura,
Mas que seja ubiquitária a esperança
Ao sepultar a derradeira impostura
Diga, pois, substância manufaturada!
Impar, impia, improvável, impossível,
Onde, amiúde seduz, a lenda doirada?
A quem tu chamas de Paz, A Inacessível,
Esta virgem, que feiticeira peregrina
Pelas tuas moléculas arbritárias
Já resvala na tua sombra viperina
E sucumbe às tuas juras mercenárias
A donzela cujo espectro desacata –
Arrebatado – percepções e intelectos,
E desaponta a presunção caricata
De um acervo de efebos e de provectos
Se, quiça, A Inacessível desse à luz
Um rebento qu’incauto quisesse rebentar,
Humildade seria o nome que reluz,
O mais fúlgido astro do sistema estelar
E, rumo ao irrevogável recôndito,
A moça astênica e o débil rapaz,
Assombrados diante do despropósito,
Interrogavam-se sobre a mística paz;
De repente um silêncio arrebatador
Suspende o tempo, cristaliza o dilema,
E desata um pressentimento libertador,
Reduzir-se-ia a vida a um poema?
Não, nem o dilema a uma aporia.
Vezeira, sobre o meu martírio incide
Uma alternativa – supôs a ironia.
Sobressaltado, assim como quem transgride,
Ante o adeus, à beira da despedida,
Chorei o pranto cáustico da indecisão:
Vê-la suspirar uma última medida
Ou ir, antes dela, partir, e louco então…
Luiz MacVate_1968