Katamênia
Luiz MacPontes
Luiz MacPontes
Ó, enigmática minha, muito te desejo,
Oh! Como anseio tua repentina chegada,
Aguardo-te convulsa, expectante almejo
Estancar, pois, na embocadura idolatrada,
Teu fluxo periódico ― teu rubro gotejo
Eras persona non grata quando rebentavas,
Úmida, tépida, a me lambuzar os lábios
― Tão impetuosos como incandescentes lavas ―
Quando osculados por libidinosos sábios
A quem tu, despudoradamente, molestavas
Vem! Mais intenso martírio há na tua ausência
Do que nos suplícios das beatas católicas,
Porquanto o decurso da tua inconfidência
Mais árduo é que o fardo das pungentes cólicas,
Cíclicas, que das jovens fêmeas não têm clemência
Da tirânica e tétrica existência, a extensão
Que germina no recesso sinistro da matriz
Brota do vínculo de dois gametas ― explosão!
Milagre, fôlego, dores, primores, cicatriz
No ventre ― o ventre edaz ― bárbara escravidão !
Abandonavas o meu corpo feito um detido
Quando se liberta das grilhetas que o detêm,
Vem umectar-me com teu necrosado tecido,
O asco que me arrojava nos arcanos do além,
Hoje, é deleite que louvo de queixo erguido
Amada ― do cálice, o vinho tinto vertido...
Da rosa carmesin, a pétala desgarrada,
Eras infame, rança, um coice na libido;
Tua partida sempre épica ― comemorada ―
Mesmo quando emporcalhavas o meu vestido
Faze de mim tua fugaz e cálida morada,
E o meu vulcão venéreo visita muitas vezes !
Para que não seja eu ― sem tréguas ―fecundada,
Para que eu ― ávida ― não te espere nove meses,
dilatando, bendita menstruação danada!
Luiz MacAngelo