Parábola do Puro
Luiz MacPontes
Luiz MacPontes
Era uma vez um passarinho,
O bico esguio ― cor de vinho,
O corpo airoso ― amarelo,
Ele era manso, franco e bom,
Gostava de debicar bombom,
E de balas de caramelo.
Morava num ninho bonito,
Vizinho do seu piriquito,
Vizinho do seu pardaleco,
Seu nome era Kítrinos Puro,
Seu penacho era azul escuro,
Nasceu músico ― u’amoreco
Um belo dia, seus amiguinhos
― Que pareciam tão bonzinhos ―
Vozearam : ― piupiu piupiu pom...
― Puro, você é mui cretino,
Não sabe adejar sem destino,
Não consegue gorjear no tom
Puro, atônito, calado,
Quis saber se havia pecado,
Quis saber d’alogia a razão,
O porquê de seus amiguinhos
Terem saído dos seus ninhos
Com o lábaro do ódio em mão
Por quê ? ― Perguntou curioso:
― Que fiz eu de pernicioso
Pra merecer tal humilhação?
Disseram em única e só voz
Os pássaros de índole atroz:
― Você é um grande bobalhão!
Depois açoitaram o Puro,
Lançaram-no contra um muro,
Leso, caiu de bico no chão,
Mas Puro não era covarde,
Era uma personalidade
Diversa das demais ― do padrão
E ao erguer-se dolorido,
Com olhar hirto, destemido,
Irado, mudo ― não fez sermão
Partiu para cima da turma,
Bicadas, asadas ― em suma ―
Dos ânimos deu-se a combustão
Puro ― réu do prélio sem regra ―
Suplicou ― como quem se entrega ―
Contrito, o fim da dissensão,
Como um prodígio da refrega,
O ferrolho da paz se quebra
Com o chilrear d’uma oração
Os vencidos arrependidos,
Entre trinados e gemidos,
Pediam: ― Perdão, perdão, perdão...
Mas Puro era mui passarinho,
E penalizadissimozinho
Soluçava de tanta emoção
Puro, longe de ser perfeito,
Deparou-se com o seu defeito
Quando usou de violência,
Pois o que se vê num sujeito
É o que de si sai do peito
― Espelho da vil existência
Unidos, os seus amiguinhos,
― Aqueles rudes passarinhos ―
Lhe fizeram terna confissão :
― Irmão, camarada estimado,
Que juízo precipitado...
Você não é nada bobalhão
Somos todos alucinados,
Pois nossos mestres aleijados
Globalizaram a educação,
Agora, cremos na evidência
― Não requer nenhuma ciência ―
Basta apreender a boa lição
E armados de compostura,
Todos na mesma partitura,
Cantavam a pitoresca canção:
― Viva! Viva! Que aventura!
Fez-se da fúria, a ternura,
Da discórdia veio a remissão
Luiz MacAngelo