Êxodo
Luiz MacPontes
Luiz MacPontes
A partida é quase sempre triste...
Mais triste é saber que decaíste
E que partir é ainda melhor
Do que desatinar, esperando,
Do que esperar prostrado, gorando,
E servir de roxo pasto ao condor
Pois que um espírito estremecido,
Bem longe do gládio enfurecido
Que lhe faz mortificação feroz,
Traz consigo ― na face ― desenhado,
Um trejeito nu, alforriado,
Livre das disciplinas do algoz
Se sangrar aflito o teu coração
E o sangue aflito ― em eboulição ―
Evaporar c’o a fé do teu peito,
Hás de tragar a acerba poção
Dos brutos deuses do teu panteão
E vaguear herege, suspeito,
Quando esgotar a déspota pulsão
― A harta fibra do teu coração ―
E sem esperança gelar teu peito,
Desposa a tua turva maldição!
Chama de úlcera a tua petição!
Chama de infecundo o teu pleito!
Num delírio vi o fim da vida
― O fim de quem da morte duvida ―
E desejei neste instante morrer,
Esqueci que se morre em vida...
E vociferei logo em seguida:
― Oxalá só haja morte em morrer!
Luiz MacAngelo