Pensiero

Quando eu penso em ti me bate a saudade

Das noites da cidade onde eu te vi florir,

Pois que dos penhacos da eterninade

A luz faz das trevas, cores pra te atrair

Quando eu penso em ti eu me desencontro

E até dez eu conto pra não sucumbir

A tua graça, e padecer do confronto

Entre a paixão e a razão de existir...

Quando eu penso em ti eu quase enlouqueço,

Pois que ao teu avesso eu temo consentir

E aos caprichos do meu próprio avesso

Receio não lograr, ileso, escapulir

Quando eu penso em ti às vezes deploro

As núpcias que eu jamais ousei contrair

― Não sei se por cautela ou pouco decoro ―

Pois eras vestal e anuíste te despir

Quando eu penso em ti eu penso nos extremos

― No norte e no sul, no zênite e no nadir ―

Pra não ter que multiplicar nem dividir,

E num afã absurdo eu começo a rir...

Quando eu penso em ti eu te avisto inteira

E a tua voz faceira eu consigo ouvir

Entoando a melodia derradeira...

― Que no meu corpo encerra o ontem e o porvir