Machismo ao feminino
Luiz MacPontes
Luiz MacPontes
Era uma vez o encontro e o jantar do mês
Entre camaradas de bom bate-papo.
Num bar francês, o ambiente de polidez
Degenerou num só e único ato.
Um G7― quatro minas e os caras três,
― Um suiço, um canadense sem tato,
A teuto-brasileira de tom sudanês
E de decoro sem mácula, intato,
Duas suiças, eu e u’a ítala cortês
― No apogeu do seu eterno celibato
Subitamente ― nunca soube a razão ―
O canadense ― sobremodo trapalhão ―
Disse ser ínvida e rancorosa a mulher,
C’o essa desastradíssima declaração
Desataram-se, pois, as línguas de trovão,
Mais incorruptíveis que a de Robespierre
Uma das quatro minas ― a moralista ―
Desnaturou o debate progressista,
Aos seus ardores, seus antolhos ajustou
E tratou o canadense de machista,
Que maltratado foi-se, baixou a crista,
― digno, estupefacto ― não mais regressou
Então disse eu ― como outrora se fazia ―
Tudo que dentro de mim incandescia:
― Que o machismo é o maior dom feminino ―
O disse sem temor, sem cobardia,
― Céus! Exasperada a dondoca bramia
Das profundezas do seu colo uterino:
― Vade retro! Sai! Vais comprar erudição
Numa escola secular de doutrinação
E um bom léxico francês ― Le Petit Robert.
Para não mais fazer das tripas coração,
Sonhei usar da prisca Lei de Talião,
― Revidar ― e encarar o que der e vier
A turma ― cartesiana e realista ―
Divisava a cena surrealista
Cuja ribalta a cabotina iluminou,
Da italiana ― cortês e pacifista ―
Até um olhar, singelo e trocista,
Do seu voluptuoso semblante escapou
Jurei que com letras e humor replicaria
À Miss machista ― que louca ― se contorcia
Em crise psico-semântica, imagino,
Porque os homens, o pênis e o bordo, maldizia,
E, ex cathedra, a coitada se repetia :
― Tu só dirás babaquices, Babbuino !
Luiz MacAngelo