Paroles et musique - Luiz MacPontes
Sob o mito da cegonha
Vem surgindo, sem-vergonha,
Mais um desenganado,
Altaneira a criatura,
Onipresente o precipício
E o tropeção inesperado
Já vem subtraindo dias,
Memoriais de agonias
Sobre a Terra idolatrada.
Curandeira a paz que cura,
Curiosa a dor que mata,
A dor da morte anunciada
A vida tem suas razões
Como as tem nas procissões
A delirante humanidade,
Pederneira a desventura,
Obsceno o exercício
No picadeiro da imensidade
E vem morrendo sem demora,
Ninguém morre antes da hora,
Eu tô morrendo de saudade,
Feiticeira a ruptura,
Prematura a Traviata
Que me assalta e que me invade
Um vem morrendo de alegria
Ultrajando a maioria
Dos candidatos ao sossego,
Hospitaleira a sepultura,
Ilusório o benefício
No arraial do velho diego
Brincando aqui com meus botões
Desacatei a bofetões
Um regimento de condenados,
Conselheira a partitura
Desta valsa caricata,
Valsa de Eros e de Tânatos
Talvez alguém morra de dó,
Na multidão morreu de só
Um cidadão na flor da idade,
Passageira a aventura,
O estigmato natalício
Repousa à sombra da eternidade
Vem um morrendo de tesão,
Cyrano morreu do coração;
Uma mulher no miocárdio