Paroles et musique - Luiz MacPontes
Gentil, mãe gentil, musa empalada,
Mãe d’Osório Duque, a estrada
Hipotecada é vosmecê,
Traída pelos dardos da impudência,
Pela sua descendência,
Os coronéis donos do Ipê,
Querida, já chorei no seu regaço
Porque o caos do seu compasso
É de braço e miserê
Febril, mãe febril das minhas saudades,
De todas enfermidades e de mais
Não sei o quê,
Das dores, conceições e concordatas,
Mas também mãe das mulatas,
Este samba é pra você,
Dolores, nos salões à quatro patas
Entre escárnios e gravatas,
Pugilismo e caratê
Brasil, meu Brasil da carochinha,
Meu pirão, minha farinha
De condão é pra quem crê
Nos tais dos jornais mal-assombrados,
Nos colarinhos engomados,
Nos tubarões do Tietê.
No cais dos corações atribulados
Jazem barcos batizados
Com aguardente e TNT
Gentil, mãe gentil, côco, cocada,
Mãe do feijão, da feijoada,
Do marmelo e do dendê,
Da batida, do bate-papo na cadência
Dessa ilusão de independência,
Mãe das novelas de TV,
Querida, cada dia é mais um passo,
Mais um golpe no cachaço
E a cabeça no bidê
Febril, mãe febril das divindades,
De todas calamidades,
O dia a dia, o dia D,
Mãe d’água, mãe de todos os piratas
Do convés das suas matas,
Pingo é pingo pra quem lê
Nas tábuas, os preceitos falocratas
Dos canibais demoniocratas;
Cada qual seu metiê
Brasil, se esta Terra fosse minha,
De ciranda, cirandinha,
De Saci, o Pererê,
Em paz, e foragido dos seus prados,
Eu voltaria olhos inchados
P’ra pertinho de você,
Apraz-me-ia celebrar com pés fincados
Nesta terra, os renovados
Aguilhões do balancê
Florão da América
Luiz MacVate_1968