Demiurgo, Cosmos e Tânatos
Luiz MacPontes
Luiz MacPontes
O espetáculo parece soberano,
Jubilam as retinas, a psiquê emprenha,
A excelência, que acampa atrás do profano,
Dona libitina solapa e desdenha
Sucumbe o juízo ante o superno arcano,
Pois que o incontido ósculo desenha
A lauta gnose do eterno decano
Que dos transcendentes píncaros despenha.
As cores da idolatrada matéria
Fazem do átomo, o deus do universo,
A tensão distende e rompe a artéria,
Desprende-se do corpo o extremo verso
Antítese da existência inteira,
A inteira metade do seu flanco averso,
Epicentro excêntrico, a fronteira
Entre os cunhos do reverso e do obverso
Sobe às narinas um olor funesto
E da língua escapa uma peçonha atroz,
As cores no rosto da mulher d‘Ernesto
Dissimulam o cenho do sinistro algoz
A venerada matéria ainda seduz
Os olhos mórbidos do teuto Ernesto
Quando o frontispício ardiloso reduz
A complexa matriz à expressão de um gesto
De fascínio em fascínio nasce a certeza,
E de vislumbre é lavrada a convicção.
O esplendor perceptível é nossa alteza,
Nas horas ociosas é nosso irmão
E o Construtor, à sombra da fortaleza,
Destila as glicoses da ingratidão,
Mas não coíbe a fecunda correnteza
Que jorra da Sua sublime inspiração
Parceria: Père Louis e Luiz MacVate